sábado, maio 06, 2006

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Na antiga Roma imperial, conhecida por seu domínio de todo o mundo à época, o happy hour do pessoal era um pouco mais hardcore. Os famosos banquetes romanos, onde todo mundo se enchia de vinho até à tampa em homenagem ao deus Bacco (daí o termo baccanale – bacanal), ofereciam aos participantes várias orgias. Entre elas, a gastronômica.

Para saborear as iguarias em continuação, os convidados tinham o hábito de, após encher o pandulho, realizar um auto-exame laringológico. Dessa forma provocavam uma revolta do material previamente deglutido, que não exitava em retornar, liberando espaço para uma maior autonomia gastronômica na “festinha”.

O interessante é que tem gente que pensa: “que mundo louco aquele né?”. Mas na verdade não nos damos conta de como isso serve de metáfora para os banquetes e bacanais dos quais fazemos parte. A cada dia no nosso mundo mais evoluído, consumimos e vomitamos diversos tipos de comidas, celulares, carros, bebidas, cigarros, músicas, roupas, religiões, “estilos de vida”. “Seja você mesmo”, “respeite sua sede” “não importando sua idade”, mas “com alguma coisa em comum”. O que se vê é uma eterna busca de um mundo maravilhoso, sem falta, coisa inerente do humano, mas que nos produtos adquire o status de comprável.

Ficamos fascinados pela completude oferecida pelos produtos. O cidadão vai, compra, goza um certo tempo de felicidade, uma felicidade momentânea. Consome até não agüentar mais. Compra isso, compra aquilo. Cinqüenta formas de acessar a internet, a que se ajusta mais ao corpo, barriga definida em alguns dias...

Mas diferentemente dos nossos amigos romanos, hoje os vômitos são constantes. Mas têm o mesmo objetivo, de esvaziar. Liberar energia para um novo consumo. Os objetos deixam de trazer felicidade, por vários motivos. Às vezes porque lançam um novo, que faz mais coisas que o anterior. Às vezes porque passa a euforia. Se esvaziam esses objetos. Se esvaziam do significado tão esperado. E na falta, o cidadão vai consumir de novo. Porque a falta, hoje, é insuportável. Mas esse é papo pra outro post...