quarta-feira, agosto 17, 2005

Deixou o pai na estação. Pela janela de vidro duplo via ele abanar, num misto de protesto, já saudade e, – tudo – ao mesmo tempo, apoio. Não sabia o que estava deixando para trás, apesar da janela denunciar: junto ao pai encontravam-se mãe, irmãos, irmãs, namorada (essa aparentemente a mais abatida). Dos colegas no trabalho havia recebido abraços e mensagens de apoio, carinho. Isso na véspera.

O lugar para onde ia não se restringia apenas ao que estava escrito no bilhete do trem. Este servia apenas para localizar um lugar no espaço. O verdadeiro lugar onde se encontraria estava depois de vales, pastos cheios de ruminantes, camponeses cansados, camponesas com longas saias, praias, planícies e casas velhas de madeira (que segundo sua namorada eram mais bonitas) com venezianas tortas.

Sabia que enfrentaria muitas coisas para chegar lá. Encontraria grandes pessoas e outras nem tanto. Alguns o prejudicariam, poucos o ajudariam. Mas a maioria o ignoraria, o que para ele seria o pior. Caixa acústica sem ressonância. Tímpano estourado. Banco de ônibus em estrada deserta.

Mas já tinha grandes companheiros a esperá-lo na estação de chegada: seus medos, suas angústias, suas dúvidas, seus sonhos. Sua coragem o impelia a seguir em frente, mas não sabia se estava apontando para o lado certo. Sua mira sempre foi boa, apesar de ter aprendido a atirar sozinho. Mas haviam muitos alvos. Isso pelo menos o confortava. Sabia que poderia escolher.

Lembrou de um grande amigo. Talvez o melhor. Ouviu dele, certa vez, que o grande problema é quando os nossos sonhos se realizam. Nunca tinha entendido muito bem aquela frase, mas pensou que começava a entendê-la. Viu o mar e uma ponte, e quis, forçosamente, fazer daquela imagem uma metáfora para o que vivia. Achou piegas mas interessante.

Ao descer, viu uma imagem já um pouco conhecida. O rapaz abanava da janela para um grupo de pessoas. O via triste, inevitável, mas confiante. Conseguiria o que queria. Parecia inteligente e capaz. Entendeu que aquilo acontecia milhares de vezes todos os dias. Em todos os lugares. Comum e peculiar. Lembrou de seu pai abanando e sentiu como era forte aquela imagem. Mão espalmada ao vento. Continha apenas rugas e marcas do tempo. Era suficiente. Riu quando pensou que parecia mostrar e dizer “um dia tu vais ter umas destas”, como se soubesse o quanto cada uma dessas marcas pode dizer.

Apesar de não ser nenhuma criança, sabia que muitas marcas esperavam para fazer parte de sua vida. Marcas de sucessos e de conquistas. Outras nem tanto. Estava disposto a pagar o preço.

Mas teria sempre seu pai naquela estação. Lhe dando apoio qualquer que fossem suas marcas.

Lucas Fabbrin

2 Comments:

At 3:14 AM, Anonymous Anônimo said...

todos os dias é um vai e vem/avida se repete na estação/tem gente que chega pra ficar/tem gente que vai pra nunca mais/tem gente que vem e quer voltar/tem gente que vai e quer ficar/tem gente que veio só olhar...

comovente, guri.

 
At 1:13 AM, Anonymous Anônimo said...

Bonjorno, paideiablogdolucas.blogspot.com!
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